A propósito da recente moda em programas de
TV e blogs (um bom exemplo no Lateral Esquerdo) de se dizer que o Benfica se desgasta em demasia,
nomeadamente quando comparado com o Porto, e devido à diferença com que as duas
equipas abordam o jogo no que respeita ao preenchimento do centro do meio
campo, apraz-me dizer o seguinte:
Em
1º lugar, não me parece que o Vítor Pereira seja um deus da tática e o Porto
seja uma espécie de Barcelona sem Messi e Iniesta. Todas as equipas de topo na Europa
têm mecanismos bem percebidos e aplicam-nos constantemente e com grande
intensidade durante os jogos, daí que seja habitual ouvirmos criticas a jogadores
como Balotelli porque, apesar de fabuloso em todos os aspetos individuais, não
consegue manter a concentração e acaba por ser menos um em grande parte de cada
jogo. O Benfica também o faz e nisso o nosso treinador é realmente fantástico
por consegue fazê-lo sem ter necessidade de gastar 30 milhões de euros em 2
laterais, por exemplo!
Em 2º lugar, relativamente à tática
utilizada na maioria das vezes pelo Benfica, ando a falar nisto desde que o Ramires
se foi embora e levámos recorrentes banhadas táticas nos confrontos com o Porto
da era Vilas Boas. De facto, o Porto preenche (muito) melhor os espaços
centrais o que lhe permite recuperações de bola mais rápidas. Como consequência
há 3 fatores importantes:
- Como falado no blog acima e para mim menos importante, é o menor desgaste físico na procura da posse de bola.
- Muito mais importante, é o menor desgaste mental/psicológico por passar mais tempo sem posse de bola.
- O mais importante de todos, é correr menos riscos defensivos em áreas mais próximas da baliza.
- Quanto ao 1º, Jorge Jesus tem-no combatido (apenas este ano) com uma boa rotação do plantel. A equipa está muito mais equilibrada, têm jogado muitos jogadores muitos minutos e sem se notar (quase nada) a diferença entre um e outro em cada posição. Isto revela que o jogo também é bem percebido na Luz ainda para mais porque há vários jogadores a fazer (bem em muitos casos) várias posições.
- Quanto ao 2º aspeto, a melhor forma de o combater é ir ganhando jogos e isso viu-se no jogo contra a Académica. A confiança da equipa é tal que ia dando asneira! Ainda assim, não existe grande desgaste mental, mesmo em situações de perda de bola, e desgaste físico porque existe uma mentalidade ganhadora nos jogadores. Não há nenhuma derrota em competições internas e para a Europa só perdemos com o Barcelona (quase óbvio) e com o Spartak que é o único percalço da época e que, apesar de não estarmos na Champions, acaba, na minha opinião, por ter pouca importância no estado mental dos jogadores.
- O 3º aspeto é sem dúvida o mais importante porque é claro que o Benfica abre brechas do tamanho de crateras no momento das transições defensivas. É esse o pior aspeto do jogo do Benfica, ou seja, para conseguir desequilibrar ofensivamente abre mais o jogo pelas alas e coloca mais jogadores em posições profundas do terreno. Quando perde a bola é, de facto, obrigado a correr mais mas, principalmente com equipas com valores individuais mais fortes, acaba muitas vezes por não conseguir resolver as situações de perigo antes que cheguem à baliza.
Sou um acérrimo crítico de se entrar
em campo com dois pontas de lança e dois extremos puros, nomeadamente, em jogos
contra equipas mais fortes no seu conjunto e com bons valores no centro do meio
campo. Que o Jorge Jesus o queira fazer contra equipas mais fracas para as pressionar psicologicamente
e porque consegue resolver as situações de inferioridade numérica nas
transições defensivas com a maior qualidade individual dos seus jogadores, tudo
bem por mim, mas que o faça contra o Porto, o Braga ou muitas das equipas
contra quem jogamos na Europa, isso já não me agrada. E os resultados estão à
vista, os jogos em casa com o Porto e Braga foram miseráveis. O jogo fora com o
Braga, menos suicida no que respeita ao preenchimento dos espaços no meio campo,
deu numa exibição pouco exuberante mas muito mais segura e a vitória assentou-nos maravilhosamente.