No início da época passada vários de nós atirámos a toalha
ao chão com as saídas de Javi Garcia e Axel Witsel. A verdade é que Matic e
Enzo fizeram uma dupla infernal e se Matic já se percebia que tinha muita
qualidade, Enzo foi uma surpresa por ter feito birra na época anterior e por
estar deslocado da posição que nos disseram que era a sua de raiz, chegado à
linha do lado direito.
Relembrei este episódio para falar um pouco daquilo que é a
minha perspetiva sobre o plantel que se começa a formar e quais os jogadores
mais importantes. A importância de um jogador num desporto coletivo vai muito
além do que é a sua capacidade para pegar na bola e fintar meia dúzia de
adversários, levantando o estádio.
Vamos então a nomes:
Artur Morais – Para muitos foi o responsável pelos desaires
da equipa, eu não concordo. Acho que é o primeiro bom guarda redes que temos
desde Enke mas também acho que não é nenhum Preud-homme ou Bento. É possível
encontrar tão bom ou melhor. Não é imprescindível.
Ezequiel Garay – É um defesa central de uma qualidade imensa,
não só na marcação como nas dobras, pela velocidade que tem, mas também na
capacidade para sair com a bola jogável e executar passes longos. Com estas
características complementa na perfeição o capitão Luisão. É ainda novo e, com
uma cláusula de rescisão de 20 milhões de euros, muito apetecível. Pelo que vi
de Lisandro López, parece-me que temos jogador ao nível do seu compatriota.
Garay não é imprescindível (e parece já estar vendido).
Luisão – Há mais de meia dúzia de anos que é o esteio da
defesa encarnada. É um bom jogador, muito forte na marcação e no jogo aéreo
defensivo. Soube evoluir no que era o seu aspeto mais negativo, sair a jogar
com a bola nos pés e passes longos para ninguém. Agora não faz nenhum desses
erros, passa a bola a quem sabe cumprir essas tarefas. A sua maior virtude é
ser uma voz de comando dentro e fora de campo. Um líder. Um capitão como não
havia desde Bento ou Humberto Coelho (sem comparações). Seria possível de
substituir mas difícil. É imprescindível pela liderança natural na sua
personalidade.
Maxi Pereira – Um exemplo de combatividade, vontade de
ganhar e dinâmica. É bom jogador mas o extremo pendor ofensivo e a falta de
velocidade deixam-no, por vezes, sem andamento para alguns adversários. As duas
últimas épocas foram algo irregulares. Por já ter 6 anos de Benfica é daqueles
jogadores que “faz o balneário”. Não gostaria nada que saísse mas poderíamos
encontrar tão bom ou melhor, pelo menos em termos de jogo jogado. Não é
imprescindível.
Nemanja Matic – Tornou-se o jogador que todos dizem ser o
melhor do plantel e não é por acaso que foi eleito o melhor jogador do
campeonato e se fala de meia Europa atrás dele. Tem altura, dinâmica, é bom com
a bola nos pés, muito pressionante, posiciona-se de forma excelente e só tem 24
anos! Vai sair do Benfica, senão este ano, no próximo. Seria titular em quase
todas as equipas do mundo. Não o conseguiríamos substituir por ninguém melhor e
mesmo alguém tão bom que nos fizesse esquecê-lo seria muito difícil. Pelo valor
de mercado que tem, não pode ser imprescindível porque o modelo de negócio do
Benfica assenta nisso mesmo, vender os melhores. Resta ao Benfica colocar na
sua posição alguém que faça um bom trabalho sabendo que seria um milagre
arranjar-mos alguém tão bom ou melhor.
Enzo Pérez – Típico jogador à Benfica. Muita dinâmica, muita
vontade, muita raça, muita força e muita qualidade nos pés. Por já ter 27 anos
não terá um valor de mercado muito elevado. Será o jogador ideal para aguentar
o meio campo quando Matic sair e, pela sua atitude, poderá vir a ser uma
referência da equipa. É imprescindível.
Nico Gaitán – Tem magia nos pés. É claramente o jogador mais
criativo dos que proveem da época anterior e o golo ao Sporting, que continua
bem vivo na nossa memória, é prova disso. É rápido e explosivo. O ano passado
foi muito marcada por uma lesão que lhe “roubou” a primeira metade da época. É,
no entanto, um jogador inconstante, capaz do melhor e do pior (às vezes parece
alheado do jogo). Tem uma tendência irritante para se agarrar muito à bola e
com isso comprometer a equipa. Não é imprescindível e está na hora de ser
transferido para render alguns milhões... que já vai sendo difícil alguém pegar
nele.
Eduardo Salvio – Um portento de força, explosividade,
dinâmica e verticalidade. Um desequilibrador nato, não pela qualidade técnica
em dribles mas pela velocidade com que pauta o jogo. Não parece ter substituto
na equipa (Rojas deverá ir para a B e Markovic rende mais no meio) pelo que, se
for vendido terá que ser substituído com alguém vindo de fora. Uma das
diferenças mais claras da equipa do Benfica relativamente ao porto é o facto
dos jogadores do porto parecerem ter mais força, algo que pode ser decisivo,
nomeadamente na Europa. Ora, Salvio (juntamente com Enzo) é dos pouco que tem
força de sobra e difícil de substituir à altura. É imprescindível mas sairá de
certeza, tal como Matic, senão este ano, no próximo.
Oscar Cardozo – Confesso que não sou um adepto das características
do paraguaio. Gosto de jogos rápidos e dinâmicos e Cardozo é a antítese disso. Também
é pouco combativo tanto no jogo aéreo como com a bola nos pés. Já para não
falar nos casos de indisciplina! No entanto, tem marcado muitos golos e nisso
tem sido consistente, de tal forma que ninguém se lhe compara nos últimos anos.
Ainda assim, há que aceitar que muitos desses golos são um reflexo da qualidade
e pendor ofensivo da equipa o que ficou provado na época passada com a prestação
goleadora de Lima. Parece-me que Lima ou Rodrigo apoiados por Markovic ou
Djuricic terão qualidade e golos para levar o Benfica onde queremos que esteja.
Não é imprescindível (aliás, parece que já está vendido!).
Lima – Ao contrário do anterior, aprecio muito as
características de jogo de Lima. Rápido, com força, com faro de golo mas também
com capacidade para municiar outros colegas em melhor posição de marcar. Acho
que é possível ao Benfica encontrar mais jogadores com a sua qualidade mas já faz
30 anos e, a ser vendido, não renderia, em euros, o seu valor em campo. Rodrigo
tem características muito idênticas a Lima mas na hora de finalizar ainda tem
muito que evoluir. Lima é também importante para fazer evoluir Rodrigo. Com a
saída de Cardozo passa a ser o único selo de garantia de golos no plantel. É imprescindível.
Resumindo, com cerca de 100 jogadores com contrato
profissional e cerca de 30 no plantel principal, há, na minha opinião, quatro que são imprescindíveis
e um deles poderá ser vendido antes do fim de agosto, Salvio.