segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Prognóstico Benfica x Olhanense

O jogo da jornada pautou-se pela regularidade exibicional do Benfica: pouco explanou o que sabe e pode fazer no decorrer da partida, com a bola poucas vezes à flor da relva e efectivamente a queimar os intervenientes encarnados no espectáculo. Os baixos índices de produtividade atacante e a falta de acutilância no meio campo foram fruto da ausência de bons movimentos atacantes a rasgar as costas do adversário, juntamente com linhas demasiado estáticas em termos de pressão alta e basculamentos lateralizantes.

Num jogo atípico, era o Olhanense que colocava em sentido a zona intermédia do campeão nacional, apostando em passes rápidos ao primeiro toque e no fantasismo de alguns dos seus intérpretes, enquanto que o meio campo encarnado tardava em atacar a bola e a linha avançada se mantinha estática, à espera de ocasiões que não surgiam sem o envolvimento de todo o grupo de trabalho. Coube então à defesa do Benfica por ordem na casa, varrendo as jogadas que se amontoavam na sua zona de acção --- iniciativas atacantes sempre incómodas para uma equipa actualmente sobre brasas, embora pouco dotadas de índices de eficácia e sem apresentarem oportunidades claras de visar as redes defendidas por Roberto.

Assim, foi apenas devido à forte união do grupo e à capacidade de sofrimento dos adeptos que se deslocaram em noite chuvosa ao bastião da Luz que a equipa da casa levou de vencida o Olhanense, derivado ao nervosismo do guardião do último reduto algarvio no lance do primeiro golo. Aos 42 minutos, o ex-benfiquista Moretto, claramente incendiado pela presença num estádio onde nunca conseguiu dar expressão ao seu futebol, fez aquilo que o Mister Jesus exigiu do espanhol Roberto: deu pontos ao clube da águia. Ao defender frouxamente um remate de cabeça de Óscar "Tacuara" Cardozo, penteando o esférico pelas orelhas, ofereceu um golo fácil ao melhor marcador do campeonato transacto. Da análise do lance verifica-se a possibilidade da bola ter ganho velocidade ao embater no piso molhado, mas tal não serve de atenuante num lance em que Moretto pode fazer muito melhor.

Repetindo a receita do jogo anterior em casa, o Benfica aproveitou o erro do adversário para na segunda parte estabilizar as suas transições defesa-ataque e apostar numa circulação de bola em contenção, com o objectivo de desestabilizar o adversário e obrigá-lo a abrir linhas na demanda do esférico. Mas a equipa do Olhanense manteve-se uma formação coesa, não correndo demasiado atrás da bola, receosa das desmarcações nas costas que Aimar e Carlos Martins tentavam gizar sempre que alguma jogada mais à queima não beneficiava a equipa em desvantagem no marcador.

Efectivamente, a posse de bola manteve-se do lado da formação da Luz, que no entanto teimava em não dar maior expressão ao marcador, aumentando os índices de nervosismo dos espectadores menos pacientes: vários foram os lances de perigo relativo junto da área rubrinegra, com Ruben Amorim e Carlos Martins a montarem o remate aos 53 e 60 minutos. Menos de dez minutos volvidos, seriam os seus colegas de profissão David Luiz, Cardoso e Saviola a decidirem-se pela baliza, sem no entanto conseguirem concretizar o tento que mataria o desafio.

Com as condições climatéricas em termos de chuva a ameaçarem piorar, entrou-se no último quarto de hora numa toada parada-resposta, com vários lances de algum perigo de parte a parte: a referida ineficácia concretizadora encarnada parecia prenunciar um golo fortuito do Olhanense, dando expressão à expressão popular "Quem não exibe elevados índices de concretização na área de rigor em termos de finalização termina por sofrer". Mas a sorte mais uma vez sorriu ao Benfica, que sempre foi levando a água ao seu moinho, perante um crescente desagregar da postura ordenada dos homens comandados por Daúto Faquirá.

O técnico algarvio bem tentou agitar as águas e transmitir para o campo novo ímpeto atacante, esgotando em dez minutos as substituições quando ainda não tinha sido cruzada a barreira dos oitenta minutos de jogo. Mas as suas instruções não foram correctamente assimiladas pelos atletas ao seu comando, que insistiam em lances com pouca ligação entre sectores --- isto contra um Benfica mais seguro com o aproximar da hora, que se deslocava em bloco para fechar as linhas de penetração e rechaçava uma ou outra iniciativa de cariz individual.

Com a ténue reacção dos lados de Olhão a esgotar-se e o relógio a correr para o final da partida, foi com alguma naturalidade que os adeptos da casa poderam serenar, graças ao tento oportuno de Saviola: o argentino soube prever a trajectória da bola e posicionar-se de modo a endossar o esférico para o fundo das redes de Moretto, graças a um mau alívio após marcação de pontapé de canto.

Pouco depois terminava o jogo, constituindo mais um elemento à disposição de Jorge Jesus que, embalado por um resultado que poderia ter sido outro, pôde assim tirar ilações sobre a falta de confiança dos profissionais ao seu dispor.

1 comentário:

  1. Excelente análise, parece que estou a ler o Record. O vocabulário técnico-táctico do Nando é irrepreensível.

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