domingo, 9 de junho de 2013

Dragonaço - o nosso Maracanazo!

É verdade que o SL Benfica já tinha conquistado um troféu prestigiante que o consagrava como a melhor equipa da europa (a Taça das Nações de 1961, entre campeões dos principais campeonatos europeus), no entanto, faltava ao palmarés do clube a Taça dos Clubes Campeões Europeus/Liga Europeia. Duas Taças CERS e cinco finais da principal competição (não quatro como discursou o presidente) eram um prémio pequeno para o clube que pratica a modalidade há mais tempo.

Para que se tenha uma noção do que era o hóquei em patins europeu do SL Benfica nas últimas épocas antes do Luís Sénica, relembro-vos das nossas participações. Depois de três Final 4 entre 2000 e 2002, em 2003 vencemos dois jogos e perdemos quatro na fase de grupos (dois grupos de quatro), em 2004 perdemos todos os jogos na fase de grupos (dois grupos de quatro), em 2005 na Taça CERS fomos eliminados em Itália pelo AP Follonica Hockey depois de termos sido perdulários em Lisboa (na minha opinião com a equipa mal conduzida por Paulo Garrido; o AP Follonica Hockey acabou por ganhar a competição), em 2006 fomos eliminados na pré-eliminatória da Liga Europeia pelo CP Vic, não voltámos a ter participações europeias desde aí até à chegada do Luís Sénica – apenas participámos na época seguinte no Campeonato do Mundo, onde fomos terceiros.

Com Luís Sénica – é, no entanto, inegável que o conseguiu com grandes equipas -, em 2010 fomos à Final 4 da Taça CERS, em 2011 ganhámos a Taça CERS (em casa do outro finalista), em 2012 fomos à Final 8 da Liga Europeia (eliminados por equipa superior mas por demasiados golos), em 2013…

Fomos jogar a Final 4 da Liga Europeia ao Porto, ao Dragão Caixa. Contra três equipas consideradas superiores à nossa; se pedissem para juntar uma quarta a estas três para formar o conjunto das melhores, provavelmente, a maioria dos conhecedores deste desporto escolheria o HC Liceo.

Na meia-final derrotámos o adversário mais difícil da Europa, historicamente e também no contexto actual. Das nossas 36 participações em competições europeias fomos eliminados pelo FC Barcelona oito vezes (ainda que uma em fase de grupos com dois apurados), foi a segunda vez que os eliminámos (a anterior aconteceu epicamente nos quartos-de-final da Taça dos Campeões de 1994/95). Antes deste jogo contávamos com 17 jogos contra o eneadeca-campeão europeu, com 4 vitórias, 2 empates e 11 derrotas (uma em prolongamento), juntámos mais um empate muito vitorioso.

A diferença entre o sucesso e o insucesso é muito escassa; foi assim em muitas das nossas derrotas, foi assim em muitas vitórias de outros, foi assim nesta nossa vitória. Contra o Barcelona no último minuto o SL Benfica dispôs de um livre directo, que podia ser a última oportunidade para empatar o jogo a quatro, foi marcar o experiente Carlos López; não conseguiu enganar o guarda-redes Sergi Fernandez; faltava pouco tempo, bastava apenas o desespero; e esse desespero foi compensado, quando a poucos segundos do fim o mesmo jogador, com marcação defensiva, recebeu a bola no canto superior da área, e se virou para rematar à baliza não podemos falar em calma mas em vontade de ganhar. Esse remate cheio de vontade de Carlos López saiu contra o guarda-redes e ressaltou para dentro da baliza; o insucesso esteve à vista em cada momento desta jogada até que a bola entrou na baliza.

O jogo seguiu até aos penáltis onde tudo pode acontecer, todos podem sonhar ganhar aos melhores do mundo. Aí os jogadores do SL Benfica foram mais competentes (apesar do João Rodrigues ter deixado passar o tempo para rematar o penálti...), sobretudo o guarda-redes Pedro Henriques que defendeu quatro dos cinco penáltis para colocar a equipa na final.

Seguiu-se o adversário que tem dominado o hóquei em patins nacional e muito perto tem ficado de alcançar o grande troféu europeu. Desde a criação da Liga Europeia (em 1996/97), o FC Porto havia participado em seis finais, perdeu-as todas, quatro delas por apenas um golo (outra num grupo final de 4 equipas). Haviam sido jogadas 11 partidas europeias contra o FC Porto antes desta final, 1 vitória, 3 empates e 7 derrotas, tínhamos conseguido eliminá-los uma vez (em fase de grupos) e tínhamos sido eliminados cinco vezes (duas em fase de grupos). Já tínhamos jogado uma final europeia contra o FC Porto (a Taça das Taças de 1983) e tínhamo-la perdido em Lisboa 5-6, depois de um empate a dois no Porto. Este adversário impôs-nos a nossa maior derrota europeia de sempre (1-13, em 1987). Na única Final 4 da Liga Europeia em que o SL Benfica tinha defrontado o FC Porto havia perdido por 1-4, na vergonhosa edição de 2000 no Porto. Já não ganhávamos no pavilhão do FC Porto desde um dos jogos para o campeonato em 2004. Este ano tínhamos perdido os dois jogos contra eles, o último duas semanas antes da Final 4 da Liga Europeia, por 3-7.

Nós ganhámos o mais saboroso e importante de todos.

Muitos podem tentar desvalorizar esta vitória com os resultados da equipa de futebol mas os resultados do futebol nada têm a ver com o hóquei em patins. É possível gostar de mais desportos para além do futebol, é possível gostar mais desses desportos que de futebol. Não é o meu caso, apesar disso não consigo discernir se comecei a gostar do SL Benfica mais devido ao futebol, ao hóquei em patins ou ao basquetebol. Esta era uma competição que queria ver o meu SL Benfica ganhar desde que me lembro de ver desporto, mais que qualquer campeonato nacional de futebol.

Convém não esquecer que o SL Benfica anunciou que não iria comparecer na final, devido à distribuição de bilhetes e, sobretudo, às condições de segurança que colocavam em perigo os adeptos (e equipa) benfiquistas. Que o desportivismo dos jogadores do FC Porto na final não apague o clima infernal que os adeptos benfiquistas tiveram que suportar, a preparação que estava a ser feita para ainda mais actos de terrorismo, como os que aconteceram em 2000, também na Final 4 da Liga Europeia de hóquei em patins, quando as equipas do SL Benfica na meia-final e do FC Barcelona foram alvos da ira cega dos adeptos portistas, sem o devido apoio policial. Após a final os jogadores do FC Barcelona foram agredidos e não puderam receber a Taça no campo. Não tenho muitas dúvidas que se o SL Benfica não tivesse tomado medidas o mesmo (ou muito pior) estaria preparado, caso o principal rival (no entender deles: inimigo) ganhasse a principal competição - e que tanto eles têm tentado ganhar - da modalidade que o seu presidente e a maioria dos seus adeptos mais gostam, em sua casa. Estes actos vergonhosos têm o patrocínio do senhor que inventou a guerra Norte-Sul para promover o crescimento do seu clube, um crescimento que tem sido criado através do ódio. Tivemos que ir jogar a um ambiente hostil criado por um clube que não olha a meios para ganhar. Congratulo a direcção do meu clube que conseguiu combater esta violência sem recorrer à mesma e promovendo a segurança dos intervenientes no espectáculo (que deve ser sempre) do desporto.

Quanto ao jogo foi um grande espectáculo de hóquei em patins entre duas das melhores equipas do mundo, em que qualquer dos 10 jogadores pode certamente ter orgulho de pertencer devido à sua influência na equipa. O FC Porto embalado pelo apoio do seu público chegou cedo a uma vantagem de dois golos e com possibilidade de a aumentar. A equipa do SL Benfica não ficou visivelmente abalada e conseguiu manter-se a uma distância recuperável, com consciência que não eram necessárias medidas drásticas para tentar recuperar a desvantagem. A meio da segunda parte o SL Benfica conseguiu mesmo passar para a frente e pareceu querer controlar calmamente o jogo, mas perante a poderosa equipa do FC Porto isso não foi possível. O 5-5 no final dos 50 minutos era um resultado justo, qualquer equipa poderia ter vencido e terminaria como um campeão muito meritório. Foi o tipo de jogo que se quer numa grande final, com alternâncias no líder do jogo, com golos, com jogadas bonitas. Esperava-se que a esta altura o SL Benfica já não tivesse aguentado o poderio atacante do FC Porto, que a jogar em casa era claríssimo favorito. Mas a nossa equipa foi brava e soube jogar a final. No prolongamento numa jogada ensaiada, pedida pelo treinador, o Diogo Rafael rematou de longe e o João Rodrigues desviou a bola para o golo de ouro. 

Estava concretizado o nosso Maracanazo! A equipa do SL Benfica terminou como campeã, mereceu-o, os jogadores estiveram psicologicamente num nível muito elevado, não sucumbindo às adversidades de ambos os jogos e provaram que muito trabalho foi feito para se conseguir este enorme sucesso – mérito da equipa técnica.

As grandes vitórias costumam ter heróis que se destacam dos outros e brilham naquele momento decisivo. Esta enorme vitória – os dois jogos – teve muitos momentos que podem ser considerados decisivos, tivemos muitos heróis. O Ricardo Silva (guarda-redes por vezes pouco amado) fez defesas que mantiveram a equipa na discussão do resultado, não existe nenhuma grande equipa campeã que o seja sem grande intervenção do seu guarda-redes, especialmente em jogos tão equilibrados como os desta Final 4. Ao contrário do que tem acontecido muitas vezes a marcação de penáltis foi decisiva a nosso favor, o nosso melhor marcador (sempre o vi assim), Luís Viana, dispôs de quatro penáltis na Final 4 e transformou-os em 4 golos (fortíssimo!). Do outro lado, Pedro Henriques, o guarda-redes suplente que foi chamado para evitar os golos de livres directos e penáltis esteve brilhante, defendeu um livre directo no prolongamento contra o FC Barcelona evitando a nossa eliminação. O Marc Coy, que durante a época não conseguiu fazer esquecer a saída do Sérgio Silva, marcou um dos penáltis da meia-final e um golo importantíssimo na segunda parte da final. O Cacau que marcou de forma brilhante (que calma e concentração!) o livre directo que nos deu o primeiro golo da final, quando a margem de erro começava a escassear. O Carlos López que marcou o golo no fim do jogo da meia-final, com enorme crer demonstrado pela forma como festejou contra a sua antiga equipa; venceu a sua sexta Liga Europeia (uma no HC Liceo, quatro no FC Barcelona), também já ganhou o Sul-Americano de Clubes (pelo Unión Vecinal de Trinidad, UVT), e se não me engano é o primeiro jogador a ganhar a competição por três clubes diferentes. Os jovens João Rodrigues e Diogo Rafael, que espero sejam a base desta equipa por muitos anos, e marcaram em conjunto o golo de ouro da final, remate do Diogo com desvio do João. (Ao Diogo disse uma vez que era o único dos jogadores actuais que tinha lugar nas grandes equipas dos anos 90, entretanto surgiram vários jovens que vão trazer muitas glórias ao hóquei em patins português, mas ele tem tudo para ser o líder desta nova geração.) Sem esquecer o Tuco (que marcou penálti na meia-final e é sempre importante nos remates de longe) e o capitão Valter Neves que são a base defensiva desta equipa que esteve muito bem organizada em quase todos os momentos da Final 4.

O percurso para esta grande vitória europeia começou em 2009/2010 com a chegada de Luís Sénica, nesse ano, depois de muitas peripécias, ficámos em 5º no campeonato, ganhámos a Taça e fomos à Final 4 da CERS - o suficiente para muitos considerarem que não servia para o SL Benfica -, no ano seguinte ganhámos a Supertaça, terminámos o campeonato com os mesmos pontos do primeiro (que ganhou facilmente à UD Oliveirense na última jornada, treinada pelo seu futuro treinador Tó Neves; apenas empatámos um jogo e perdemos dois) e ganhámos a Taça CERS, no ano seguinte ganhámos a Taça Continental (sem jogar) e o campeonato que nos fugia há muito tempo (com dois empates e uma derrota), este ano já tínhamos ganhado a Supertaça, terminámos o campeonato com quatro empates e duas derrotas. Para se obter este nível de resultados foi necessário manter uma base estável de jogadores desde que foi construída a equipa que venceu a Taça CERS; dessa equipa, que tinha 11 jogadores, saíram: o grandíssimo Ricardo Pereira, o Caio e o Tiago Rafael; entraram: os experientes Sérgio Silva e Carlos López. Para esta época saiu o Sérgio Silva e entrou o Marc Coy, o que parecia ter deixado a equipa um pouco menos forte. 

Nestes quatro anos a equipa sempre se mostrou forte a nível europeu, especialmente em casa onde conseguiu 9 vitórias, 2 empates e não consentiu derrotas. No total foram 18 vitórias (uma em golo de ouro), 5 empates (uma com vitória em penáltis) e 5 derrotas (uma em golo de ouro); três troféus.

Há quem diga que os benfiquistas só se lembram do hóquei agora que ganhámos a Liga Europeia, eu não sou desses, fui a dois dos quatro jogos em casa nesta competição, não fui aos outros dois porque não pude. Sinto-me campeão desta Liga Europeia, quando pude fui dar o meu contributo. Fui receber a equipa à 1:00 ao Pavilhão da Luz, porque acho que mereci festejar com a equipa. Talvez algumas daquelas cerca de mil pessoas não tenham presenciado um jogo sequer esta época, espero que o façam a partir de agora, o hóquei em patins do SL Benfica merece.

Para concluir o agradecimento à equipa fui ver o último jogo em casa para o campeonato, contra o Sporting CP. Saúdo com agrado a guarda-de-honra com que os jogadores do Sporting CP receberam os campeões europeus. E também o desportivismo da claque oficial das modalidades do Sporting - algo que não conseguem ensinar à claque principal, que foi para o pavilhão para provocar. Foi o tipo de jogo que conquista adeptos para a modalidade, a equipa do Sporting CP mostrou que merecia evitar a despromoção e a do SL Benfica tentou sempre jogar bonito para brindar os adeptos com uma grande exibição; foi conseguido e com vitória por 10-4. Ambas as equipas mereceram e levaram aplausos no final. Congratulo o Sporting CP pela permanência; o ambiente que tem um jogo com o Sporting CP não se consegue normalmente contra o HC "os Tigres" de Almeirim, tem muita piada ir para o pavilhão gritar aos adeptos do Sporting CP "vais para a segunda", mas tem mais piada fazê-lo todas as épocas. Foi a despedida do Ricardo Silva, que nem sempre agradou a todos, mas a meu ver foi sempre mais o que fez de bom que o que não conseguiu fazer bem. O Luís Viana esteve, mais uma vez, brilhante e marcou 5 golos, o comportamento soou a despedida dos adeptos, espero que não se concretize; não é fácil arranjar jogadores de área como ele e Ricardo Pereira. Parece também que vamos ficar sem o treinador campeão europeu, lamento, os que ganham o que ele ganhou são de manter.

OBRIGADO E PARABÉNS CAMPEÕES!

(Cliquem sobre as imagens para ver as animações, produzidas pelo user Darkboy do fórum Serbenfiquista. Frases em itálico têm ligação para vídeo.)

1 comentário:

  1. Agora que o slb parece ter efectivamente uma boa equipa, vamos mudar tudo... Ta certo... Mais do mesmo...

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