Hoje é o aniversário de um dos meus jogos preferidos do SL Benfica, um que faz a diferença na nossa história.
Vou recuperar um texto que escrevi sobre ele neste mesmo dia em 2006:
http://1001jogoshistoricos.blogspot.pt/2006/05/lutar-e-sofrer-em-berna-futebol.html
Lutar e sofrer em Berna
31 de Maio de 1961, Estádio Wankdorf em Berna (Suíça)
SL Benfica 3-2 CF Barcelona
Árbitro: Dienst (Suíça)
SL Benfica: Costa Pereira; Mário João e Ângelo; Neto, Germano e Cruz; José Augusto, Santana, Águas (cap.), Coluna e Cávem. Treinador: Bela Guttmann
Barcelona CF: Ramallets; Foncho e Gracia; Vergés, Gensana e Garay; Kubala, Kocsis, Evaristo, Suarez e Czibor. Treinador: Orizaola
Golos: 0-1 Kocsis (20’), 1-1 Águas (30’), 2-1 Vergés (pb, 32’), 3-1 Coluna (55’), Czibor (75’).
Faz hoje 45 anos que o Sport Lisboa e Benfica venceu a sua primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus e assim se tornou um dos primeiros clubes a inscrever o seu nome entre os grandes clubes mundiais. É com o jogo final desta brilhante campanha europeia que início a rúbrica do 1001Desportos sobre jogos históricos.
O Barcelona CF apresentava-se na final como claro favorito depois de ter eliminado a grande equipa do Real Madrid CF, que tinha vencido as 5 edições anteriores da Taça, numa eliminatória muito polémica, o Barcelona CF tinha vencido também as duas edições já realizadas da Taça das Cidades com Feira. A equipa espanhola contava com um ataque dos mais fortes da história do futebol, contando com os geniais húngaros Kubala, Kocsis e Czibor, o brasileiro Evaristo e o espanhol Luiz Suarez. Do lado do SL Benfica a peça mais importante era o seu carismático treinador, o húngaro Bela Guttmann, ele estruturou uma equipa muito organizada em que o colectivo é que vencia os jogos, incutiu uma mentalidade vencedora nos jogadores que fez com que jogassem com muita “garra” e nunca desistissem do jogo, na história do futebol europeu (UEFA) ainda não se tinha visto uma equipa onde o treinador fosse tão importante para a equipa e talvez só voltasse a acontecer de forma tão explícita cerca de 60 anos depois. Cabia ao SL Benfica tentar contrariar o favoritismo do adversário que representava o domínio do futebol espanhol de clubes na Europa, o Barcelona CF sentia que a vitória já era sua depois de ter eliminado o poderosíssimo Real Madrid CF e até ofereceu ao SL Benfica, antes do jogo, uma Taça que seviria de prémio de consolação para a equipa portuguesa.
O jogo começou com ambas as equipas a tentarem sair para o ataque ainda que de forma algo atabalhoada, mas aos 3 minutos o ataque do Barcelona CF conduziu uma boa jogada que foi parar à esquerda do seu ataque onde Czibor efectuou um cruzamento para o centro da área onde depois de um corte de Germano um dos seus avançados efectuou um pontapé de bicicleta salvo por Mário João sobre a linha de golo. Seguiu-se um período de equilíbrio onde as equipas mostravam mais vontade que qualidade para chegar ao golo e as ocasiões de golo naturalmente não surgiam apesar do esforço de ambas as equipas, apenas se registaram sem perigo remates de Suarez e Coluna. Até que a cerca dos 10 minutos de jogo aconteceu algo que lançou o pânico entre as hostes portuguesas, após um choque de cabeças Coluna (o organizador do jogo do SL Benfica) fica estendido inanimado no chão tendo que sair do terreno de jogo ajudado pela equipa médica e Cávem, como na altura não haviam substituições o SL Benfica ficou a jogar com 10 contra o poderosíssimo Barcelona CF. O próximo lance de perigo surgiu num remate frontal de fora da área por Evaristo. Três minutos após ter saído Coluna regressa ao jogo. Após um período algo adormecido de jogo volta a acontecer perigo junto de uma das balizas com Kubala a desmarcar Kocsis para esta rematar à figura de Costa Pereira, o SL Benfica responde com um lance de perigo dentro da área adversária mas que termina sem um remate à baliza, seguindo-se pouco tempo depois novo lance de perigo por parte da equipa portuguesa com um cruzamento de Coluna na direita para a cabeça de Águas que à entrada da área rodeado por dois adversários cabeceia acabando a jogada nas mãos de Ramallets, foi um período de curto domínio benfiquista. A isto seguiu-se a melhor jogada do encontro até aí com a bola a passar por vários jogadores na direita do ataque do Barcelona CF e culminou com o cruzamento de Suarez para o golo de cabeça de Kocsis depois da bola ter sobrevoado a defesa benfiquista. O SL Benfica respondeu com um cruzamento perigosíssimo de Cávem para a área onde Águas não conseguiu desferir o cabeceamento. Após uma fase mexida de bola cá bola lá o Barcelona CF tem mais uma jogada de grande perigo onde as triangulações do seu ataque levam a um remate de Evaristo para uma grande defesa de Costa Pereira, o SL Benfica passou por momentos de algum sufoco junto da sua área após este lance. Quando se libertou da pressão do Barcelona CF, que procurava o segundo golo, lançou um contra-ataque com Coluna a desmarcar pela esquerda Cávem que remata à saída de Ramallets a bola ainda não se dirigia para a baliza até que surgiu Águas oportunista a empurrar a bola para o golo, o SL Benfica tinha conseguido surpreender o Barcelona CF e a equipa animada continuou a atacar, até que surgiu certamente um dos golos mais estranhos das finais europeias depois de um cruzamento central de Neto para a área do Barcelona CF Vergés corta de cabeça a bola descreve um arco acentuado para a sua baliza onde Ramallets vai tocar a bola contra o poste esta entra na baliza e sai imediatamente deslizando sobre a linha de golo, Santana ainda vai perseguir a bola para tentar marcar golo mas o árbitro já tinha assinalado golo do SL Benfica face aos protestos dos barcelonistas que inconformados alegavam erradamente que a bola não tinha entrado, em 2 minutos o SL Benfica tinha virado o jogo a seu favor . A partir daí o SL Benfica continuou a ser a melhor equipa em campo e conseguia manter quase exclusivamente o jogo no meio-campo adversário e todas as tentativas do Barcelona CF caíam aos pés de Germano ou na falta de eficácia dos seus jogadores, até que já perto do intervalo a equipa espanhola consegue entrar na área benfiquista e Suarez cruza para o mergulho de cabeça de Kocsis e com Costa Pereira já batido é novamente Mário João que salva o golo, desta feita com a coxa. A resposta surgiu pouco depois por José Augusto, naquele que foi o único esforço em que mostra a sua classe, ilude o seu adversário com uma finta e consegue penetrar na área rematando já apertado para a defesa de Ramallets. O intervalo chegou com o SL Benfica em vantagem no marcador num jogo equilibrado e que apesar de nem sempre bem jogado estava movimentado e emocionante, o resultado beneficiava a equipa que tinha sido bafejada com um pouquinho mais de sorte, castigando a equipa que jogou com mais rispidez.
O SL Benfica inicia a segunda parte ao ataque e depois de um cruzamento longo para a área Águas ganha uma bola de cabeça aos defesas e guarda-redes do Barcelona CF deixando à disposição do pé esquerdo de Santana mas o remate saiu desajeitado ao lado. No seguimento o Barcelona CF obrigou o SL Benfica a defender com toda a equipa no seu meio-campo, algo que soube fazer bem. Contudo o SL Benfica não se manteve uma equipa defensiva e continuava a tentar criar as suas ocasiões de golo. Num outro lance de ataque da equipa espanhola Mário João volta a cortar um lance em que a bola se dirigia para a baliza e na recarga a bola cai nas mãos de Costa Pereira. A pressão sobre o SL Benfica continuava sem que os jogadores portugueses perdessem a orientação e pouco tempo depois Santana desmarca José Augusto para um remate forte mas muito por cima. Coluna iniciou poderosíssimo uma jogada de ataque passa para o cruzamento de Cávem, a bola é cabeceada por um defesa do Barcelona CF para fora da área onde Coluna sem deixar a bola cair no chão remata potentíssimo para o canto inferior direito da baliza de Ramallets, ele que já nesta parte tinha ameaçado com um disparo para fora fez um golo muito belo. Notava-se na alegria dos jogadores benfiquistas e na festa que os portugueses faziam no estádio e em todo o Império que a vitória já se sentia nos seus corações, depois de tudo o que se timha passado até então com o SL Benfica a conseguir realizar um grande jogo e quase a conseguir neutralizar o adversário o impensável no início da época já era visto como uma realidade, no entanto muito estava ainda para acontecer e os rasgos de brilhantismo da equipa espanhola poderiam surgir a qualquer momento, esses corações iriam sentir ainda muitos apertos. E isso provou-se na jogada imediata ao golo com Kubala a aparecer livre de marcação na direita do seu ataque e a desferir um grande remate para grande defesa de Costa Pereira. Mas por momentos ainda continuou a ser o SL Benfica a dominar o jogo e depois de mais uma boa jogada de ataque Santana rematou de fora da área em arco por cima da baliza, passado pouco tempo novo remate do mesmo jogador desta feita numa recarga dentro da área mas fraco à figura do guarda-redes. Depois de o SL Benfica não ter conseguido arrumar definitivamente a questão foi a vez do Barcelona CF ter o domínio do jogo sem contudo materializar em ocasiões de golo, o SL Benfica continuava a defender muito bem. Até que a cerca de 20 minutos do final uma bola é bombardeada para a área do SL Benfica e o cabeceamento de Germano é efectuado em chapéu para trás sobre o seu guarda-redes parando na cabeça de Kocsis que atira ao poste, Ângelo é que acaba o sufoco cedendo canto. Passado poucos minutos Kubala remata forte de fora da área com a bola a ir embater nos dois postes e a ir parar nas mãos de Costa Pereira, quando os da Cidade Condal já festejavam golo. O SL Benfica tentava sacudir a pressão essencialmente através das investidas de Coluna que se mantinha incansável e continuava a carregar a equipa para a frente. Contudo o domínio dos de Barcelona acentuava-se procurando desesperadamente o golo que acabou por surgir num lance genial de Czibor a rematar de fora da área ao ângulo superior direito da baliza benfiquista sem que Costa Pereira tivesse qualquer hipótese, que ainda se atirou muito bem à bola, se este golo premiava as tentativas dos barcelonistas em chegar ao golo castigava mais injustamente o esforço defensivo dos benfiquistas. Este golo é certamente um dos mais belos marcados em finais europeias. O jogo continuou bom com ambas as equipas a criar perigo ao adversário, notava-se muito esforço por parte dos atacantes do SL Benfica para continuar a atacar a baliza contrária. Mas numa jogada de muita envolvência dos atacantes do Barcelona CF dentro da área do SL Benfica Kubala volta a rematar ao poste, apesar de continuar a jogar bem já se temia o pior entre os benfiquistas. As peças fundamentais do futebol benfiquista conseguiram manter-se tranquilas e iam queimando tempo com a bola nos pés dificultando a missão dos barcelonistas, estes quando tinham a bola nos pés eram rapidíssimos e tentavam a todo o custo criar ocasiões de golo, mas nas poucas vezes que o conseguiam deparavam-se com um Costa Pereira em grande forma ou um dos seus defesas a compensar o seu guarda-redes. O SL Benfica ainda dispôs de uma grande ocasião de golo com Santana a correr todo o meio-campo adversário isolado mas a faltarem-lhe as forças na altura do remate. Após esse lance o jogo caminhou para o seu final sem que o Barcelona CF conseguisse voltar a ameaçar a baliza benfiquista. Quando o árbitro suíço apitou para o final do jogo foi a loucura entre os portugueses, deu-se a pacífica invasão de campo e os jogadores fotram levados em ombros pelos adeptos. Tinha ganho a equipa que mais mereceu levar o troféu para casa.
O Mundo acabara de conhecer o poder futebolístico do SL Benfica, que tinha ganho com muito esforço e qualidade futebolística. O clube português trouxe as duas Taças para casa e tornou-se o primeiro clube a ser campeão europeu apenas com jogadores nacionais e o único até à vitória do FC Steaua Bucuresti em 1985/86, também contra o FC Barcelona. Quem não tinha ficado ainda convencido com a vitória benfiquista era o Barcelona CF, que alegava azar para ter sido derrotado e que tinha melhor equipa que o SL Benfica, para tirar dúvidas o SL Benfica aceitou disputar um jogo particular em casa do adversário, esse jogo terminou empatado 1-1 e foi o reconhecimento internacional do SL Benfica como melhor equipa da Europa na época 1960/61, a Taça que o SL Benfica tinha recebido do Barcelona CF antes do jogo de Berna ficou como símbolo desse reconhecimento, inclusive por parte do Barcelona CF.
A equipa do SL Benfica era constituída por duas partes: a parte da defesa e do meio-campo, composta por trabalhadores e a do ataque composta por artistas. Mário Coluna fazia a transição entre os trabalhadores e os artistas, pois pertencia a ambos sendo provavelmente o melhor nas duas funções. Os primeiros tinham como missão o jogo da equipa adversária e entregar aos restantes que tentariam então criar jogo para marcar golos. O grande destaque, peça fundamental e talvez mais importante da vitória do SL Benfica foi Mário João, este jogador foi um trabalhador incansável, nunca deu tréguas aos adversário, correu o jogo todo atirando-se a todos os lances com emoção, muitos foram os carrinhos, os cortes de cabeça deste baixo jogador e ainda salvou dois golos em cima da linha, ele que até este encontro tinha jogado apenas 5 vezes. Era admirável a sua determinação e entrega ao jogo, ao vê-lo jogar não seria de estranhar que os seus companheiros de equipa pensassem em ganhar o jogo para lhe dedicar a vitória. Para mim jogar à Benfica é jogar à Mário João. Outra peça fundamental na vitória do SL Benfica e sem a qual esta ainda mais dificilmente aconteceria foi Mário Coluna que conduziu muito bem o jogo do SL Benfica, marcou um golo fantástico e soube controlar o jogo quando foi necessário. Destaque ainda para Germano, na defesa onde era um dos melhores jogadores mundiais, e no ataque para Santana um jogador muito tecnicista. De referir ainda, por outro lado, que José Augusto não se encontrou nos seus melhores dias e ficou aquém das expectativas, raramente conseguindo superiorizar-se aos defesas do Barcelona CF. Sobretudo o que fez o SL Benfica ganhar o jogo foi o espírito de equipa. Foi uma vitória de uma equipa bem organizada e com espírito de sacríficio. O adversário também valorizou muito a vitória benfiquista, com a excelente equipa que tinha o Barcelona CF fez um grande jogo criando um rol imenso de oportunidades de golo.
A questão a colocar no final do jogo era se teria sido uma vitória casual e esporádica de uma equipa combativa com muita qualidade no ataque mas com apenas um grande desequilibrador (Mário Coluna), mas no ano seguinte dois jovens jogadores (Simões e Eusébio), especialmente aquele ainda hoje considerado dos melhores futebolistas de sempre, vieram mostrar que este clube marcaria uma época no futebol europeu.
A primeira vez que vi o jogo não lhe dei o devido valor e apesar do seu significado vi-o como um jogo com falta de algumas qualidades, mas ao revê-lo vi para além dos passes falhados, de algumas jogadas inconsequentes e observei um jogo com muitos momentos bons e com jogadores que tinham verdadeiro espírito desportivo, davam o seu melhor em campo. Esta equipa com o seu esforço e dedicação conquistou mutitos admiradores pelo mundo, alargou a grandeza e glória do seu clube, ainda hoje ajuda a conquistar adeptos... como eu que sou um grande admirador da equipa de Futebol do SL Benfica 1960/61.
Vou recuperar um texto que escrevi sobre ele neste mesmo dia em 2006:
http://1001jogoshistoricos.blogspot.pt/2006/05/lutar-e-sofrer-em-berna-futebol.html
Lutar e sofrer em Berna
31 de Maio de 1961, Estádio Wankdorf em Berna (Suíça)
SL Benfica 3-2 CF Barcelona
Árbitro: Dienst (Suíça)
SL Benfica: Costa Pereira; Mário João e Ângelo; Neto, Germano e Cruz; José Augusto, Santana, Águas (cap.), Coluna e Cávem. Treinador: Bela Guttmann
Barcelona CF: Ramallets; Foncho e Gracia; Vergés, Gensana e Garay; Kubala, Kocsis, Evaristo, Suarez e Czibor. Treinador: Orizaola
Golos: 0-1 Kocsis (20’), 1-1 Águas (30’), 2-1 Vergés (pb, 32’), 3-1 Coluna (55’), Czibor (75’).
Faz hoje 45 anos que o Sport Lisboa e Benfica venceu a sua primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus e assim se tornou um dos primeiros clubes a inscrever o seu nome entre os grandes clubes mundiais. É com o jogo final desta brilhante campanha europeia que início a rúbrica do 1001Desportos sobre jogos históricos.
O Barcelona CF apresentava-se na final como claro favorito depois de ter eliminado a grande equipa do Real Madrid CF, que tinha vencido as 5 edições anteriores da Taça, numa eliminatória muito polémica, o Barcelona CF tinha vencido também as duas edições já realizadas da Taça das Cidades com Feira. A equipa espanhola contava com um ataque dos mais fortes da história do futebol, contando com os geniais húngaros Kubala, Kocsis e Czibor, o brasileiro Evaristo e o espanhol Luiz Suarez. Do lado do SL Benfica a peça mais importante era o seu carismático treinador, o húngaro Bela Guttmann, ele estruturou uma equipa muito organizada em que o colectivo é que vencia os jogos, incutiu uma mentalidade vencedora nos jogadores que fez com que jogassem com muita “garra” e nunca desistissem do jogo, na história do futebol europeu (UEFA) ainda não se tinha visto uma equipa onde o treinador fosse tão importante para a equipa e talvez só voltasse a acontecer de forma tão explícita cerca de 60 anos depois. Cabia ao SL Benfica tentar contrariar o favoritismo do adversário que representava o domínio do futebol espanhol de clubes na Europa, o Barcelona CF sentia que a vitória já era sua depois de ter eliminado o poderosíssimo Real Madrid CF e até ofereceu ao SL Benfica, antes do jogo, uma Taça que seviria de prémio de consolação para a equipa portuguesa.
O jogo começou com ambas as equipas a tentarem sair para o ataque ainda que de forma algo atabalhoada, mas aos 3 minutos o ataque do Barcelona CF conduziu uma boa jogada que foi parar à esquerda do seu ataque onde Czibor efectuou um cruzamento para o centro da área onde depois de um corte de Germano um dos seus avançados efectuou um pontapé de bicicleta salvo por Mário João sobre a linha de golo. Seguiu-se um período de equilíbrio onde as equipas mostravam mais vontade que qualidade para chegar ao golo e as ocasiões de golo naturalmente não surgiam apesar do esforço de ambas as equipas, apenas se registaram sem perigo remates de Suarez e Coluna. Até que a cerca dos 10 minutos de jogo aconteceu algo que lançou o pânico entre as hostes portuguesas, após um choque de cabeças Coluna (o organizador do jogo do SL Benfica) fica estendido inanimado no chão tendo que sair do terreno de jogo ajudado pela equipa médica e Cávem, como na altura não haviam substituições o SL Benfica ficou a jogar com 10 contra o poderosíssimo Barcelona CF. O próximo lance de perigo surgiu num remate frontal de fora da área por Evaristo. Três minutos após ter saído Coluna regressa ao jogo. Após um período algo adormecido de jogo volta a acontecer perigo junto de uma das balizas com Kubala a desmarcar Kocsis para esta rematar à figura de Costa Pereira, o SL Benfica responde com um lance de perigo dentro da área adversária mas que termina sem um remate à baliza, seguindo-se pouco tempo depois novo lance de perigo por parte da equipa portuguesa com um cruzamento de Coluna na direita para a cabeça de Águas que à entrada da área rodeado por dois adversários cabeceia acabando a jogada nas mãos de Ramallets, foi um período de curto domínio benfiquista. A isto seguiu-se a melhor jogada do encontro até aí com a bola a passar por vários jogadores na direita do ataque do Barcelona CF e culminou com o cruzamento de Suarez para o golo de cabeça de Kocsis depois da bola ter sobrevoado a defesa benfiquista. O SL Benfica respondeu com um cruzamento perigosíssimo de Cávem para a área onde Águas não conseguiu desferir o cabeceamento. Após uma fase mexida de bola cá bola lá o Barcelona CF tem mais uma jogada de grande perigo onde as triangulações do seu ataque levam a um remate de Evaristo para uma grande defesa de Costa Pereira, o SL Benfica passou por momentos de algum sufoco junto da sua área após este lance. Quando se libertou da pressão do Barcelona CF, que procurava o segundo golo, lançou um contra-ataque com Coluna a desmarcar pela esquerda Cávem que remata à saída de Ramallets a bola ainda não se dirigia para a baliza até que surgiu Águas oportunista a empurrar a bola para o golo, o SL Benfica tinha conseguido surpreender o Barcelona CF e a equipa animada continuou a atacar, até que surgiu certamente um dos golos mais estranhos das finais europeias depois de um cruzamento central de Neto para a área do Barcelona CF Vergés corta de cabeça a bola descreve um arco acentuado para a sua baliza onde Ramallets vai tocar a bola contra o poste esta entra na baliza e sai imediatamente deslizando sobre a linha de golo, Santana ainda vai perseguir a bola para tentar marcar golo mas o árbitro já tinha assinalado golo do SL Benfica face aos protestos dos barcelonistas que inconformados alegavam erradamente que a bola não tinha entrado, em 2 minutos o SL Benfica tinha virado o jogo a seu favor . A partir daí o SL Benfica continuou a ser a melhor equipa em campo e conseguia manter quase exclusivamente o jogo no meio-campo adversário e todas as tentativas do Barcelona CF caíam aos pés de Germano ou na falta de eficácia dos seus jogadores, até que já perto do intervalo a equipa espanhola consegue entrar na área benfiquista e Suarez cruza para o mergulho de cabeça de Kocsis e com Costa Pereira já batido é novamente Mário João que salva o golo, desta feita com a coxa. A resposta surgiu pouco depois por José Augusto, naquele que foi o único esforço em que mostra a sua classe, ilude o seu adversário com uma finta e consegue penetrar na área rematando já apertado para a defesa de Ramallets. O intervalo chegou com o SL Benfica em vantagem no marcador num jogo equilibrado e que apesar de nem sempre bem jogado estava movimentado e emocionante, o resultado beneficiava a equipa que tinha sido bafejada com um pouquinho mais de sorte, castigando a equipa que jogou com mais rispidez.
O SL Benfica inicia a segunda parte ao ataque e depois de um cruzamento longo para a área Águas ganha uma bola de cabeça aos defesas e guarda-redes do Barcelona CF deixando à disposição do pé esquerdo de Santana mas o remate saiu desajeitado ao lado. No seguimento o Barcelona CF obrigou o SL Benfica a defender com toda a equipa no seu meio-campo, algo que soube fazer bem. Contudo o SL Benfica não se manteve uma equipa defensiva e continuava a tentar criar as suas ocasiões de golo. Num outro lance de ataque da equipa espanhola Mário João volta a cortar um lance em que a bola se dirigia para a baliza e na recarga a bola cai nas mãos de Costa Pereira. A pressão sobre o SL Benfica continuava sem que os jogadores portugueses perdessem a orientação e pouco tempo depois Santana desmarca José Augusto para um remate forte mas muito por cima. Coluna iniciou poderosíssimo uma jogada de ataque passa para o cruzamento de Cávem, a bola é cabeceada por um defesa do Barcelona CF para fora da área onde Coluna sem deixar a bola cair no chão remata potentíssimo para o canto inferior direito da baliza de Ramallets, ele que já nesta parte tinha ameaçado com um disparo para fora fez um golo muito belo. Notava-se na alegria dos jogadores benfiquistas e na festa que os portugueses faziam no estádio e em todo o Império que a vitória já se sentia nos seus corações, depois de tudo o que se timha passado até então com o SL Benfica a conseguir realizar um grande jogo e quase a conseguir neutralizar o adversário o impensável no início da época já era visto como uma realidade, no entanto muito estava ainda para acontecer e os rasgos de brilhantismo da equipa espanhola poderiam surgir a qualquer momento, esses corações iriam sentir ainda muitos apertos. E isso provou-se na jogada imediata ao golo com Kubala a aparecer livre de marcação na direita do seu ataque e a desferir um grande remate para grande defesa de Costa Pereira. Mas por momentos ainda continuou a ser o SL Benfica a dominar o jogo e depois de mais uma boa jogada de ataque Santana rematou de fora da área em arco por cima da baliza, passado pouco tempo novo remate do mesmo jogador desta feita numa recarga dentro da área mas fraco à figura do guarda-redes. Depois de o SL Benfica não ter conseguido arrumar definitivamente a questão foi a vez do Barcelona CF ter o domínio do jogo sem contudo materializar em ocasiões de golo, o SL Benfica continuava a defender muito bem. Até que a cerca de 20 minutos do final uma bola é bombardeada para a área do SL Benfica e o cabeceamento de Germano é efectuado em chapéu para trás sobre o seu guarda-redes parando na cabeça de Kocsis que atira ao poste, Ângelo é que acaba o sufoco cedendo canto. Passado poucos minutos Kubala remata forte de fora da área com a bola a ir embater nos dois postes e a ir parar nas mãos de Costa Pereira, quando os da Cidade Condal já festejavam golo. O SL Benfica tentava sacudir a pressão essencialmente através das investidas de Coluna que se mantinha incansável e continuava a carregar a equipa para a frente. Contudo o domínio dos de Barcelona acentuava-se procurando desesperadamente o golo que acabou por surgir num lance genial de Czibor a rematar de fora da área ao ângulo superior direito da baliza benfiquista sem que Costa Pereira tivesse qualquer hipótese, que ainda se atirou muito bem à bola, se este golo premiava as tentativas dos barcelonistas em chegar ao golo castigava mais injustamente o esforço defensivo dos benfiquistas. Este golo é certamente um dos mais belos marcados em finais europeias. O jogo continuou bom com ambas as equipas a criar perigo ao adversário, notava-se muito esforço por parte dos atacantes do SL Benfica para continuar a atacar a baliza contrária. Mas numa jogada de muita envolvência dos atacantes do Barcelona CF dentro da área do SL Benfica Kubala volta a rematar ao poste, apesar de continuar a jogar bem já se temia o pior entre os benfiquistas. As peças fundamentais do futebol benfiquista conseguiram manter-se tranquilas e iam queimando tempo com a bola nos pés dificultando a missão dos barcelonistas, estes quando tinham a bola nos pés eram rapidíssimos e tentavam a todo o custo criar ocasiões de golo, mas nas poucas vezes que o conseguiam deparavam-se com um Costa Pereira em grande forma ou um dos seus defesas a compensar o seu guarda-redes. O SL Benfica ainda dispôs de uma grande ocasião de golo com Santana a correr todo o meio-campo adversário isolado mas a faltarem-lhe as forças na altura do remate. Após esse lance o jogo caminhou para o seu final sem que o Barcelona CF conseguisse voltar a ameaçar a baliza benfiquista. Quando o árbitro suíço apitou para o final do jogo foi a loucura entre os portugueses, deu-se a pacífica invasão de campo e os jogadores fotram levados em ombros pelos adeptos. Tinha ganho a equipa que mais mereceu levar o troféu para casa.
A Águia voou alto na Europa!
O Mundo acabara de conhecer o poder futebolístico do SL Benfica, que tinha ganho com muito esforço e qualidade futebolística. O clube português trouxe as duas Taças para casa e tornou-se o primeiro clube a ser campeão europeu apenas com jogadores nacionais e o único até à vitória do FC Steaua Bucuresti em 1985/86, também contra o FC Barcelona. Quem não tinha ficado ainda convencido com a vitória benfiquista era o Barcelona CF, que alegava azar para ter sido derrotado e que tinha melhor equipa que o SL Benfica, para tirar dúvidas o SL Benfica aceitou disputar um jogo particular em casa do adversário, esse jogo terminou empatado 1-1 e foi o reconhecimento internacional do SL Benfica como melhor equipa da Europa na época 1960/61, a Taça que o SL Benfica tinha recebido do Barcelona CF antes do jogo de Berna ficou como símbolo desse reconhecimento, inclusive por parte do Barcelona CF.
A equipa do SL Benfica era constituída por duas partes: a parte da defesa e do meio-campo, composta por trabalhadores e a do ataque composta por artistas. Mário Coluna fazia a transição entre os trabalhadores e os artistas, pois pertencia a ambos sendo provavelmente o melhor nas duas funções. Os primeiros tinham como missão o jogo da equipa adversária e entregar aos restantes que tentariam então criar jogo para marcar golos. O grande destaque, peça fundamental e talvez mais importante da vitória do SL Benfica foi Mário João, este jogador foi um trabalhador incansável, nunca deu tréguas aos adversário, correu o jogo todo atirando-se a todos os lances com emoção, muitos foram os carrinhos, os cortes de cabeça deste baixo jogador e ainda salvou dois golos em cima da linha, ele que até este encontro tinha jogado apenas 5 vezes. Era admirável a sua determinação e entrega ao jogo, ao vê-lo jogar não seria de estranhar que os seus companheiros de equipa pensassem em ganhar o jogo para lhe dedicar a vitória. Para mim jogar à Benfica é jogar à Mário João. Outra peça fundamental na vitória do SL Benfica e sem a qual esta ainda mais dificilmente aconteceria foi Mário Coluna que conduziu muito bem o jogo do SL Benfica, marcou um golo fantástico e soube controlar o jogo quando foi necessário. Destaque ainda para Germano, na defesa onde era um dos melhores jogadores mundiais, e no ataque para Santana um jogador muito tecnicista. De referir ainda, por outro lado, que José Augusto não se encontrou nos seus melhores dias e ficou aquém das expectativas, raramente conseguindo superiorizar-se aos defesas do Barcelona CF. Sobretudo o que fez o SL Benfica ganhar o jogo foi o espírito de equipa. Foi uma vitória de uma equipa bem organizada e com espírito de sacríficio. O adversário também valorizou muito a vitória benfiquista, com a excelente equipa que tinha o Barcelona CF fez um grande jogo criando um rol imenso de oportunidades de golo.
A questão a colocar no final do jogo era se teria sido uma vitória casual e esporádica de uma equipa combativa com muita qualidade no ataque mas com apenas um grande desequilibrador (Mário Coluna), mas no ano seguinte dois jovens jogadores (Simões e Eusébio), especialmente aquele ainda hoje considerado dos melhores futebolistas de sempre, vieram mostrar que este clube marcaria uma época no futebol europeu.
A primeira vez que vi o jogo não lhe dei o devido valor e apesar do seu significado vi-o como um jogo com falta de algumas qualidades, mas ao revê-lo vi para além dos passes falhados, de algumas jogadas inconsequentes e observei um jogo com muitos momentos bons e com jogadores que tinham verdadeiro espírito desportivo, davam o seu melhor em campo. Esta equipa com o seu esforço e dedicação conquistou mutitos admiradores pelo mundo, alargou a grandeza e glória do seu clube, ainda hoje ajuda a conquistar adeptos... como eu que sou um grande admirador da equipa de Futebol do SL Benfica 1960/61.