Foi a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1968.
Ontem foi dia de clássicos, comecei no Metropolis e acabei no futebol de 1968.
Depois de já ter visto há alguns anos as vitórias do SL Benfica na competição, encontro-me agora com coragem para ver jogos que o SL Benfica não ganhou (talvez porque as derrotas actuais não me estejam a pesar).
É grande a diferença entre os jogos de 1961 e 1962 e o de 1968, começa na qualidade das imagens, passa pela perspectiva dos realizadores e termina no futebol, menos atabalhoado, melhor definido tacticamente. O ambiente nas bancadas era empolgante, com cânticos e um colorido (que vi a preto e branco) que na altura só existia no futebol britânico.
A primeira parte começou com o SL Benfica mais perigoso, Eusébio com grande classe e pouca preparação enviou de fora da área a bola ao barrote. Tenho ouvido várias vezes o mito que, também, neste jogo ele foi "secado" pelo Nobby Stiles - não passa disso, um mito - se o secou foi à porrada, não venceu um lance sem pontapear o Rei, a única superioridade que conseguiu foi fora da lei. No entanto, a superioridade no decorrer do encontro esteve mais do lado do United, pelo menos até ao golo da vantagem.
Era notória a diferença entre o estilo de futebol praticado pelas duas equipas, o do United era directo com passes longos para a frente - com a excepção de George Best e Johny Aston que tentavam driblar junto às laterais -, enquanto que o futebol do SL Benfica se desenrolava através de passes curtos, tentando explorar a técnica dos seus jogadores, e a partir de um certo momento (o golo adversário) com cruzamentos da zona lateral para a área. Foi num desses lances típicos do futebol britânico da altura que o United chegou à vantagem, foi efectuado um cruzamento da esquerda e Bobby Charlton apareceu a cabecear.
Torres esteve demasiadas vezes recuado e a aparecer na ala esquerda, ficando por vezes Eusébio muito desapoiado no centro do ataque. Nesse jogo, ter-se-ia ganho mais com Torres a efectuar as tarefas que Cardozo - um jogador com características semelhantes - desempenha no SL Benfica de hoje.
A equipa do United parecia estar mais solta que a do Glorioso, que por vezes se mostrou um pouco trapalhona e a abusar de faltas desnecessárias (algumas violentas). George Best, nitidamente o jogador mais desenvolvido tecnicamente da sua equipa, foi o mais castigado, tal como Eusébio eram raras as ocasiões em que se apoderava da bola sem levar cacetada. Numa das poucas em que isso não sucedeu (porque já recebeu a bola muito próximo da grande área), George Best, criou a jogada individual mais bonita do jogo, José Henrique teve que salvar por duas vezes o 2-0.
Depois do 1-0 o United passou a jogar mais tranquilo e a jogar um futebol de passes mais curtos, enquanto o SL Benfica fez o oposto e começou a jogar um futebol que não parecia ser o ideal mas o possível dado os jogadores mais criativos não estarem a conseguir levar a água ao seu moínho, jogando em cruzamentos longos para a área. E foi assim que, também, o SL Benfica conseguiu empatar o jogo, Torres (o "pinheiro" que o SL Benfica tinha no ataque) aproveitou um cruzamento de José Augusto para assistir Jaime Graça para o golo.
Novamente, sem a pressão da desvantagem sobre os ombros o SL Benfica passou a jogar um futebol mais atractivo e conseguiu três boas ocasiões de golo. A mais famosa de todas foi desperdiçada por Eusébio num contra-ataque em que rematou forte à figura de Stepney, Eusébio ficou a aplaudir o guarda-redes adversário mas a maior parte do desfecho do lance saiu da bota do Rei. Foi um final de jogo emocionante, com várias oportunidades de golo, em que o SL Benfica esteve num nível superior ao adversário.
A vantagem que "estes continentais" tinham, na visão do comentador inglês, pela facilidade que encontravam para vencer o campeonato nacional não me parece real, pois são os grandes jogos que melhoram as grandes equipas. Se ele tivesse razão então talvez o Dinamo de Kiev dos anos 90 se tivesse tornado muito maior, ou quem sabe o Skonto Riga tivesse efectuado grandes campanhas europeias. E estava tão errado que na condição física notava-se a diferença entre quem tinha um campeonato de topo e quem tinha um campeonato com poucos rivais de alto nível. No final do tempo regulamentar já Jaime Graça se queixava com cãibras.
No prolongamento a diferença física decidiu o jogo a favor do United, o fulgor final do SL Benfica no jogo não teve o prémio da vitória e depois não houve capacidade e discernimento para enfrentar devidamente o rival. No início do prolongamento o SL Benfica sofreu 2 golos, a defesa cometeu erros e esteve pouco reactiva ao ataque adversário. Ao SL Benfica não parecia faltar vontade de dar a volta ao resultado, mas faltaram certamente pernas. A meio da primeira parte já estava 4-1. Só o United conseguia incomodar a baliza adversária, mesmo que por vezes o SL Benfica se instalasse no meio-campo de ataque.
A segunda parte acabou por não ser um martírio, apesar de condenado à derrota o SL Benfica continuou sempre a tentar jogar bom futebol e Eusébio ainda obrigou Stepney a duas defesas, uma delas muito difícil. O resultado foi avultado mas o SL Benfica continuava a mostrar que era um grande da Europa que podia ganhar qualquer jogo.
É pena que na altura fosse permitida tanta violência no futebol.
Há coisas inevitáveis, apesar de já saber o resultado do jogo dei por mim a torcer pelo SL Benfica. BENFIIIIIIIIICAAAAAAAAAA!
Árbitro: Concetto Lo Bello (Itália)
Manchester United FC 4-1 ap SL BENFICA
Treinador: Matt Busby
Treinador: Otto Glória
Gostava que o departamento de marketing tomasse mais atenção ao SL Benfica dos anos 60. Em vez de colocarem à venda indumentária difícil de apreciar para quem não é adepto do tunning, se colocassem à disposição dos adeptos a camisa com que a equipa jogou nessa final, assim como o casaco das finais das vitórias de 1961 e 1962, teria mais sucesso.
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